quarta-feira, 29 de outubro de 2008

E o dinheiro?

Quem não gosta de dinheiro? Pois é. Vermelho não gosta.
Você vai dizer: “Ah, mas que absurdo! Claro que gosta! Que demagogia.”
Só que desse nosso jeito de não gostar não é demagogia não.
Tá certo que a gente trabalha pra ganhar dinheiro, a gente sua, rala, corre, até explora a mais valia. Depois a gente vive as mordomias que o dinheiro que por ventura ganhamos traz. Ficamos até felizes de ter ganhado um dinheirinho e poder ter uma vidinha melhor.
Aí você diz: “Não falei? Gosta sim.”
Mas você se engana. Porque o que a gente não gosta é dele (o dinheiro) existir.
Que o dinheiro é o maior responsável pelas mazelas do mundo todos sabem. Só houve riqueza, da forma como a conhecemos, porque houve dinheiro. E só há pobreza, de qualquer forma, que conheçamos ou não, se houver riqueza.
Mas o pior é que a riqueza e a pobreza, desde que se fizeram balizar pelo dinheiro, sempre mantiveram uma desproporção absurda. Todo acúmulo é responsável direto pela disseminação radical da escassez.
É por isso que por mais que o mundo se desenvolva, se reinvente, faça revoluções (?) tecnológicas e financeiras, há cada vez mais miseráveis. Todos os avanços havidos e por haver são insuficientes para que se dê uma distribuição minimamente justa do tal do dinheiro. E é pra ser assim mesmo. No sistema que o dinheiro representa não cabe tal justiça.
Mas, por quê?
No meu humilde ponto de vista é porque a simples existência de algo que substitua os bens materiais já nasce com a principal função da acumulação.
Ou seja, lá no nascedouro dos sistemas de exploração, foi ficando impossível que um indivíduo se sobrepusesse a outros pela imposição pura e simples da propriedade. Por mais que ele tivesse força, os explorados, em maior quantidade, lhe negariam a propriedade. Tomá-la-iam para si ou a invadiriam. A acumulação ia se tornando difícil e trabalhosa. O dispêndio com a manutenção da propriedade pela força ficava maior. Como pagar os homens cujo trabalho era manter seguras, livres de usurpação, as propriedades daquele primeiro indivíduo a que nos referimos? Dando-lhes parte de suas propriedades, naturalmente. À medida que a população aumentava, também aumentavam os custos para manter a propriedade privada e fazia falta, então, aumentá-la também.
Mas o que fazia mesmo falta era acumular algo que representasse o bem material sem sê-lo de fato. Sal, ouro ou papel, não importa. É isso que o dinheiro é: facilitador de acúmulo.
Só que no começo o dinheiro tinha que ter lastro. Tinha de fato que representar o capital, a propriedade, os bens. Ter aquele significava possuir estes.
Hoje é bem diferente. O dinheiro, no capitalismo de mercado, é absurdamente artificial. Tê-lo é, simplesmente, ter dinheiro. E o valor dele é variável de acordo com cem mil circunstâncias que nós, pessoas comuns, não conseguimos entender.
A bolha das hipotecas das casas dos caras na Carolina do Norte explodiu e agora as pessoas vão passar dificuldades em Jaraguá do Sul, ganhando o mesmo salário que ganhavam antes.
Pra mim é muito difícil entender, mas o que eu sei é que a artificialidade do capital, que já é uma deformação do próprio capitalismo, é a responsável.
Meu Deus do céu! Uma casa era pra ser uma casa e pronto. Um lugar com sala, cozinha, quarto, banheiro, teto pra as pessoas morarem e ponto final. Um saco de 5 Kg de arroz era pra ser comida pra X pessoas durante X dias e só. Mas não, é comoditie. E depende de como anda a bolsa de Hong Kong pra saber se amanhã vai dar pra comer arroz.
Com isso o povo, a base da pirâmide social, já não consegue nem entender quanto valem, em dinheiro, as coisas. Muita gente nem precisa mais ver o dinheiro. Ele é completamente controlado pelo sistema financeiro.
Você recebe seu salário depositado no banco Y. Metade dele já está comprometida com cheque especial e pagamentos no próprio banco. Aí você sai pra comprar aquela comoditie e outras comoditizinhas, passa no posto pra pôr umas comodities no tanque e paga com o cartão de crédito que tem o simbolozinho daquele mesmo banco; suas despesas mensais estão no tal débito automático e, de repente, lá pelo dia 20, você percebe que não viu o dinheiro vivo relativo ao seu salário (que já acabou).
Seu salário circulou e você nem viu. Uma entidade, que você também não vê, decide o que dá pra você comprar com ele e é assim. Mês que vem começa tudo de novo.
Só que alguns concentram mais, circulam mais, compram mais. Poucos concentram muito mais, circulam muito mais, compram muito mais. Pouquíssimos concentram infinitamente mais, circulam infinitamente mais, compram infinitamente mais.
A mais triste conclusão é que nós queríamos acabar com o dinheiro pra acabar com as injustiças que ele trouxe. Pois bem, o próprio capital se reinventou, mudou de nome, agora se chama mercado, acabou ele com o dinheiro e exacerbou as injustiças.

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