segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Glossário Eleitoral 2010 - De A a Z

Direto das Redações

Para melhor entendimento dos termos usados nas nossas matérias e das ideias associadas a eles faremos circular entre nossas equipes de jornalistas este glossário, elaborado pelo conjunto das redações das Organizações Globo, Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, Editora Abril, Rede Bandeirantes e outros menos importantes.

Solicitamos que todos – mesmo – os jornalistas dessas casas leiam e decorem o glossário, a fim de que nossa função social sagrada de bem informar o público seja executada de modo padronizado. Consideramos indispensável tal padronização uma vez que nossa força advém da nossa união e da nossa união virá a verdade, que será repetida à exaustão, ainda que pareça mentira. Se a verdade continuar parecendo mentira estamos certos de que a razão para tal terá sido a displicência no domínio do glossário que segue.

Bom trabalho e mãos à obra. A oposiç, ou melhor, a opinião precisa de nós.

Ameaça à Liberdade de Expressão – é quando alguém que não é detentor do direito descrito no verbete ‘Liberdade de Expressão’ reclama de ter sido ofendido.

Blogs Sujos – parte do verbete ‘Internet’ formada por clandestinos subversivos usurpadores de direitos.

Corrupção – é quando nossos inimigos parecem estar fazendo algo que talvez não seja permitido.

Democracia – é o sistema político em que nossos amigos estão no poder.

Deputado Corrupto – deputado da turma do verbete ‘Presidente II’ que por mais que tente não vai ter espaço para provar que não é ele (ou ela) no vídeo que ninguém viu e no áudio que ninguém escutou.

Deputado Supostamente Envolvido com Irregularidades – deputado da turma do verbete ‘Presidente I’ que tem o direito de tentar explicar aquele dinheiro todo no vídeo que vazou.

Diplomacia – Tirar o sapato pra entrar nos EUA.

Ditadura – é o sistema político em que nossos inimigos estão no poder. É o oposto exato do verbete ‘Democracia’.

Eleições – são os momentos esporádicos em que nós fingimos abrir mão de parte do nosso poder de decisão sobre todas as coisas e tentamos conduzir o verbete ‘Povo’ ao rumo que é melhor pra ele.

Eleições Fraudadas – são os meios para atingir o verbete ‘Ditadura’. Ou seja, modo pelo qual nossos inimigos chegam ao poder. Verbete nunca aplicável para os EUA.

Fracasso Diplomático – agir como verbete ‘República de Bananas’.

Ficha Limpa – é aquela lei que se a gente soubesse que ia dar mais trabalho pra a turma do verbete ‘Presidente I’ do que pra a do verbete ‘Presidente II’ nós não teríamos aprovado.

Golpe – esse verbete varia de acordo com as circunstâncias, na nossa história recente o chamamos Revolução.

Homem de Bem – pessoa que tem dinheiro e com ele comprou alguns direitos, geralmente é o oposto do verbete ‘Povo’.

Impostos – coisa indefinida que não pagamos e achamos que não temos mesmo que pagar, embora reclamemos que são abusivos.

Internet – veículo abstrato que não conseguimos – ainda – dominar. Às vezes usada clandestinamente por um monte de gente à qual determinados direitos não foram devidamente adjudicados. Mais descrições no verbete ‘Blogs Sujos’.

Jornalista – é o profissional ao qual foi adjudicado por nós o direito de uso do verbete ‘Liberdade de Expressão’. É aquele que temporariamente pode exercer esse direito, ainda que em caráter temporário e revogável.

Liberdade de Expressão – é o nosso direito (outorgado por nós mesmos) de publicar o que bem entendermos sobre quem ou o quê quisermos, quando der na nossa telha.

Liberdade de Imprensa – é a formalização empresarial do verbete ‘Liberdade de Expressão’.

Mentira – esse verbete foi incluído aqui só a título de lembrança, mas todos que trabalham em nossas empresas já sabem. É aquilo que repetido um milhão de vezes...

Meritocracia – é a prova de que quem faz parte do verbete ‘Homem de Bem’ não está lá por acaso, nem por ter tido oportunidades, nem por já ter nascido lá, mas sim por possuir o verbete ‘Qualidade’.

Nepotismo – é quando alguém da turma do verbete ‘Presidente II’ tem parentes que não estão desempregados. Se qualquer parente de alguém dessa turma tiver emprego em alguma empresa pública, seja por concurso ou não, se aplica este verbete. Se o parente trabalhar em empresa privada o verbete também se aplica, já que a investigação para se chegar a um relacionamento dessa empresa com o governo é simples e não falha. Para essa investigação pode-se lançar mão do verbete ‘Sigilo da Fonte’. Caso este verbete seja usado contra alguém da turma do verbete ‘Presidente I’, alega-se capacidade técnica.

Oposição – verbete que interinamente nossas empresas ocupam.

Povo – termo vago muito útil em época de verbete ‘Eleições’, mas desnecessário em outras épocas. ATENÇÃO - Não tem nenhuma relação com o verbete ‘Democracia’.

Presidente – verbete subdividido em duas partes por força de tropeços históricos.
*Presidente I – professor e sociólogo brilhante, inventor de todas as coisas boas que há no Brasil e nos países vizinhos, respeitador dos verbetes ‘Democracia’, ‘Diplomacia’, ‘Liberdade de Expressão’, ‘Liberdade de Imprensa’ e ‘Jornalista’. Por alguma razão que ainda não conseguimos mudar é desprezado pelo verbete ‘Povo’.
*Presidente II – cara barbudo que não sabe nem ler, nem escrever, nem falar, que abusa dos verbetes ‘Ameaça à Liberdade de Expressão’, ‘Ditadura’, ‘República de Bananas’, ‘Equívoco Diplomático’, ‘Internet’ e ‘Blogs Sujos’. Por alguma razão que ainda não conseguimos mudar é amado pelo verbete ‘Povo’.

Qualidade – é o verbete simbólico para a expressão da hegemonia do verbete ‘Homem de Bem’. Ou seja, o verbete ‘Homem de Bem’ se impõe pela capacidade individual, situação oposta à do verbete ‘Povo’ que pretende aparecer baseado no verbete ‘Quantidade’. O verbete ‘Qualidade’ pode estar diretamente associado ao ‘Meritocracia’.

Quantidade – termo usado na falta do verbete ‘Qualidade’, associado sempre à imagem do verbete ‘Povo’.

República de Bananas – país latino-americano que ousa enfrentar os EUA.

Sigilo Fiscal ou Bancário – direito assumido pelo verbete ‘Homem de Bem’ e obviamente desnecessário para o verbete ‘Povo’. Até por que este último não tem nem que ter conta em banco.

Sigilo da Fonte – argumento permitido ao verbete ‘Jornalista’ quando faz denúncia contra o verbete ‘Deputado Corrupto’.

Terrorista – aquele que lutou contra o verbete ‘Golpe’, mais apropriadamente chamado revolução, e que não mudou de lado em trinta anos. Há vários exemplos de oposto do verbete ‘Terrorista’ nos verbetes ‘Jornalista’ e ‘Deputado Supostamente Envolvido com Irregularidades’.

UDN – por razões estratégicas fica proibido fazer qualquer menção a este verbete em nossas publicações durante este ano.

Voto – instrumento inútil que tenta fazer iguais dois verbetes tão diferentes quanto ‘Homem de Bem’ e ‘Povo’.

X – letra pouco útil já que é o símbolo do verbete ‘Voto’.

Zero – é a quantidade de acertos do verbete ‘Presidente II’ que independem da esplêndida herança recebida deste pelo verbete ‘Presidente I’.

2 comentários:

Anônimo disse...

Me ha parecido estupendo, maravilloso además de elocuente e ingenioso y me ha hecho pensar en las similitudes en nuestros avatares políticos, los brasileños y los argentinos. Y es perfectamente natural q así sea, si tenemos el mismo enemigo, los manejadores internacionales de DON DINERO q no quieren dejar de colonizarnos y es así como compran ciudadanos apátridas q se venden al mejor postor, estoy de acuerdo con tu post y no cambiaría ni una coma.

Mis más cálidas felicitaciones, sos un genio.
Te quiero mucho.
Lolita.

Anônimo disse...

Orgulho: verbete utilizado, humildemente, pelos fãs do presidente II quando alguém é capaz de dizer tudo que eles pensam e não possuem capacidade técnica para redigir.

Beijos vermelhos,
Tati