quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Sobre o que chamam de paternalismo

O ministro Patrus Ananias cunhou a melhor frase sobre o assunto que eu já ouvi:
Esses mitos se devem a setores cada vez mais minoritários, encastelados em instituições de poder, que mantém uma ideologia decorrente da escravidão, do coronelismo, das capitanias hereditárias e do mandonismo, ainda que revestidas de uma falsa modernidade.
O Patrus tava falando daquelas pessoas que vivem repetindo por aí que bolsa-família é paternalismo, que não faz bem ao povo (como se estivessem preocupados com o povo), que a contemporaneidade reside em deixar o mercado, portanto o capital, resolver tudo, etc.
O que eu acho é que essa posição é cruel e egoísta.
Ou alguém aí em sã consciência consegue achar que uma pessoa pode ou deve sofrer por necessidades fisiológicas (fome, frio, doença, etc.) não atendidas simplesmente porque não coube nos planos da sociedade para si mesma?
Alguém acha mesmo que se não houve forma de que essa pessoa (criança, adulto ou velho) fosse – ou tivesse – seu próprio provedor, seja por qualquer razão, ela deve ser condenada e executada?
Não é isso que a sociedade faz quando não é “paternalista”?!
Não é isso o que defende, embora de forma pouco explícita, quem diz que programas sociais patrocinados pelo governo são esmola. Aquela conversa de dar o peixe ou ensinar a pescar...
Curiosamente essas mesmas pessoas costumam bater no peito e gritar que participam de ações de filantropia, caridade ou sei lá como é que chama hoje esse marketing travestido de preocupação social. Aí não é esmola. É o quê?
Toda forma de governo, seja ele representante de qualquer ideologia, tem que eleger, constantemente, prioridades para agir. Tá bom, isso é óbvio. Construir uma escola e garantir educação para as crianças ou uma fábrica e garantir emprego para os pais? Apoiar o setor exportador e trazer divisas de fora ou segurar a produção no mercado interno e garantir seu abastecimento a preços menores?
Beleza, tem cem milhões de coisas para ficar decidindo entre duas ou sei lá quantas possibilidades.
Mas há uma opção que já passou da hora de parar de fazer: fingir que estamos investindo na subsistência futura de gente que precisa subsistir hoje. Sinceramente, meus amigos, não dá pra a gente ficar brincando de Deus Jardineiro e dizer: deixa esse povinho que nasceu com defeito morrer pra ver se nasce outro melhor no lugar...

Um comentário:

Anônimo disse...

Touche. Great arguments. Keep up the great spirit.

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